sexta-feira, 26 de junho de 2015

DAS DIFICULDADES EM LER POESIA

Do "Manual de comunicação poética" por Maria Helena Camargo Regis. (UFSC)
Temos observado que a quase totalidade das pessoas que leem poemas, só os leem com os olhos. Numa leitura deste tipo, embora sempre permaneça o ritmo, presente até mesmo no movimento ocular, nas ondas rítmicas que sobem e descem, conforme o tônus emocional, grande parte dos elementos sonoros se perde. O nível do ritmo acústico; as variações musicais da voz, o timbre, a altura, a intensidade, a duração, ficam desperdiçadas.
            Uma das primeiras dificuldades está em a pessoa que lê, deixar a emoção exercer domínio total na apreensão do poema. Esta atitude pode de uma parte, ajudar na captação intuitiva do sentido, mas, de outra, dificultar a compreensão intelectual, lógica, também presente no poema, embora sob forma diferente daquela da prosa.
            Pode ocorrer o inverso, também. Realizar-se a leitura em nível apenas de raciocínio, com eliminação de todo clima sentimental. E uma leitura feita assim, levará, não só à mutilação do poema, mas também ao desencanto por parte do leitor que procura na composição poética, algo que ela não lhe pode dar.
            Podemos incluir como aspecto particular desta dificuldade, a da insensibilidade de certas pessoas para compreender as figuras de linguagem que aparecem no poema e, por isso, não conseguem captar seu significado.
            É geral e indiscutível a ideia de que o texto poético é plurissignificativo.
            Em nossas reflexões sobre o assunto da dificuldade e descaso em relação à poesia, chegamos à conclusão de que algumas das dificuldades seriam ultrapassadas se houvesse maior conhecimento das funções da poesia na vida humana individual e na social.
            Mas talvez para a visão que os homens atualmente têm do mundo, teria mais valor dizermos que a leitura do poema traz conhecimento, não apenas no sentido de que amplia o conhecimento da linguagem, sua ambiguidade, mas enquanto reveladora de relações e analogias inesperadas entre os seres.
            Em sua função sócia passiva, a poesia, como qualquer outra arte, é um documento da existência de determinado povo em certo lugar e período histórico. Ela, porém, por ser feita com a linguagem, e linguagem ao mesmo tempo elástica e precisa, fornece, num mínimo de palavras, o máximo de significação. Assim revela nuances de emoções e de pensamento que não encontramos em nenhuma outra arte.

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