Do "Manual
de comunicação poética" por Maria Helena Camargo Regis. (UFSC)
Temos observado que a quase totalidade
das pessoas que leem poemas, só os leem com os olhos. Numa leitura deste tipo,
embora sempre permaneça o ritmo, presente até mesmo no movimento ocular, nas
ondas rítmicas que sobem e descem, conforme o tônus emocional, grande parte dos
elementos sonoros se perde. O nível do ritmo acústico; as variações musicais da
voz, o timbre, a altura, a intensidade, a duração, ficam desperdiçadas.
Uma
das primeiras dificuldades está em a pessoa que lê, deixar a emoção exercer
domínio total na apreensão do poema. Esta atitude pode de uma parte, ajudar na
captação intuitiva do sentido, mas, de outra, dificultar a compreensão
intelectual, lógica, também presente no poema, embora sob forma diferente daquela
da prosa.
Pode
ocorrer o inverso, também. Realizar-se a leitura em nível apenas de raciocínio,
com eliminação de todo clima sentimental. E uma leitura feita assim, levará,
não só à mutilação do poema, mas também ao desencanto por parte do leitor que procura
na composição poética, algo que ela não lhe pode dar.
Podemos
incluir como aspecto particular desta dificuldade, a da insensibilidade de
certas pessoas para compreender as figuras de linguagem que aparecem no poema
e, por isso, não conseguem captar seu significado.
É
geral e indiscutível a ideia de que o texto poético é plurissignificativo.
Em
nossas reflexões sobre o assunto da dificuldade e descaso em relação à poesia,
chegamos à conclusão de que algumas das dificuldades seriam ultrapassadas se
houvesse maior conhecimento das funções da poesia na vida humana individual e
na social.
Mas
talvez para a visão que os homens atualmente têm do mundo, teria mais valor
dizermos que a leitura do poema traz conhecimento, não apenas no sentido de que
amplia o conhecimento da linguagem, sua ambiguidade, mas enquanto reveladora de
relações e analogias inesperadas entre os seres.
Em
sua função sócia passiva, a poesia, como qualquer outra arte, é um documento da
existência de determinado povo em certo lugar e período histórico. Ela, porém,
por ser feita com a linguagem, e linguagem ao mesmo tempo elástica e precisa,
fornece, num mínimo de palavras, o máximo de significação. Assim revela nuances
de emoções e de pensamento que não encontramos em nenhuma outra arte.
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