”Um Lindo Caso De Amor”.
E. S. ACADÊMICOS DA ORGIA
A NOSSA VERDADEIRA HISTÓRIA
Por
Delma Gonçalves
CY, guri travesso,
como todo bom brasileiro gostava de reunir a gurizada pra jogar bola nos
campinhos do bairro. E assim, em cada pelada que ganhavam à farra era geral e
as latas de leite em pó eram os tamborins, frigideiras de latas de sardinhas,
chique-choque com latinhas de leite condensado e o apito do juiz é que
comandava a zoeira.
Eram guris da Leopoldo
Bier, da Domingos Crescêncio, Gomes Jardim, Conde D’eu, até lá da Santana,
vinham todos em bandos.
Seu Miguelzinho,
funcionário da Caixa Econômica Federal, com cara de ranzinzo, um pouco rígido
com as crianças, mas de bom coração, Ele fingia que não gostava muito dessa
folia toda, quando estava sóbrio. Porém, quando tomava umas e outras chamava os
filhos para acompanhá-lo no violão , seu passatempo predileto, pois tinha na
alma um pouco de poesia, e a música que era dom maior. Compositor nato compunha
guaraneas, valsas poéticas, samba-canções e até marchinha de carnaval.
E seu filho CY, garoto
esperto, ritmista por natureza, acompanhava com seu tamborim de latinha, junto
com seus irmãos mais velhos, o pai nestas horas. Ou seja, sendo obediente, seu
pai deixava-o ir mais tarde fazer suas batucadas, com os guris da redondeza, lá
no riacho, lugar meio deserto, onde não incomodava ninguém.
Um dia seu
Miguelzinho, resolveu reunir toda a piazada e disse:
- Vamos organizar essa
bagunça! O carnaval está chegando, fiquei sabendo que vão abrir um coreto na
Leopoldo Bier. Eu acho que esta na hora de formarmos um bloco de carnaval guri
tem bastante, só está faltando às gurias.
E é neste momento que
a tia Carlinda (com seu sorriso acolhedor e faceiro) esposa de seu Miguelzinho,
entra no assunto, pois o que ela mais gostava era ver a casa cheia e nisso seus
filhos eram mestres. A caçula Delma, filha única, os dengos do seu Miguelzinho,
também tinha um bando de meninas, as primas: Nara, Elaine, Beatriz, as amigas:
Cainara, Bete,Rosana, Marília enfim várias coleguinhas, que se reuniam nas
tardes, no pátio de sua casa, pra brincar de cantigas de roda, bambolês,
casinhas de bonecas, todas aquelas brincadeiras, que naquele tempo era saudável
e prazeroso, onde reinava naquela rua familiar, muita paz.
Tia Carlinda disse:
-- Das meninas eu
cuido.
Junto com ela as
vizinhas resolveram colaborar unindo-se em prol dessa causa.
Logo o pacto estava
feito entre suas amigas: a Dona
Escolástica, Dona Mariazinha, Dona Jurema, Tia Teka, Dona Iracema, Vó
dos Scots, Dada dos Guimarães arremangaram as mangas colaborando nos afazeres.
Também a tia Maria Lago (seu apelido: Maria Cachacinha) que gostava de tomar
uns tragos, mas costureira de mão cheia prontificou-se de fazer as fantasias.
Até seu Valdemar,
vizinho e colega de serviço do pai do CY, resolveu ajudar.
E assim, seu Valdemar
inserido nesta empreitada tornou-se o homem dos negócios e finanças. Delmar e
Daniel (irmãos mais velhos do CY) iriam
cuidar da organização das alas. Seu Miguelzinho seria então “o cabeça” dessa
história. Num misto de maestro, mestre de bateria era quem dava ordens ao CY
(seu ritmista predileto) pra não errar no
compasso, no qual até as músicas eram de sua autoria. Estava feita a
festa. Mas, só faltava um nome para este bloco.
Naquela época tinha os
grupos carnavalescos: Bambas da Orgia, Aí Vem a Marinha, Embaixadores do Ritmo,
Fidalgos e Aristocratas e muitos outros. Também as Tribos Xavantes, Caetés,
Comanches, Tapuias, Bloquinhos das Sociedades: Prontidão, Gondoleiros, Floresta
Aurora, sem esquecer-se dos Blocos Humorísticos (homens vestidos de mulheres),
que eram as atrações, cômicas e que faziam muita folia: “Saímos sem querer”,
“To com a vela”, “O que sobrou da luta”, e muitos outros.
Havia muitos bairros
que faziam carnaval. Mas o do bairro Santana foi indiscutivelmente, maravilhoso
e inesquecível.
“Este é um pequeno trecho que escrevi contando sobre a Escola de Samba
Acadêmicos da Orgia no livro: Cinco Décadas de Samba no Bairro Santana, “Perfil
de uma Campeã”, que foi elaborado na ocasião do Jubileu de Ouro de
nossa Escola de Samba, em 2010”.
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