Foi pelos meados de 1970 em que os cabelos à lá Black Power ditavam moda. Época em que eu o conheci. O que chamava a atenção era a bela impressão que ele e seu irmão causavam, principalmente nas festas com seus trajes típicos da época: calças pantalonas, camisas de sedas coloridas, calçados de verniz de duas cores e aquelas vastas cabeleiras de fios crespos e volumosos tipo os dos negros americanos. Sim eles se assemelhavam pelos portes físicos, atléticos e esbeltos de seus 1,90m de altura, tal qual àqueles hereditários filhos da mãe África. Eram um lindo panorama de se ver esses rapazes com suas figuras artísticas, quando pegavam na guitarra e o contra baixo para tocarem suas canções autorais ou as versões cover de seus ídolos estrangeiros. Fizeram fama nas bandas que tocaram, mas a banda “Mau Mau” é que mais se destacou na cena musical de nossa Porto Alegre, na década de 70. Ecléticos, inteligentes, esses guris conseguiram mostrar ao mundo a que vieram causando sucesso em cada apresentação da banda, porém as suas andanças os levaram por rumos que nos distanciaram pelas marcas do tempo. Cada um seguiu seu destino. Pelo perfil dele notava-se ser um cara inteligente. Logo incentivado por sua mulher, se aprimorou nos estudos e destacou-se profissionalmente, como policial, advogado, fez concurso tirando o 1º lugar como Procurador do Município de POA. Teve uma linda família e suas duas filhas seguiram seus passos uma, formou-se Bacharel em Direito canta divinamente e a outra uma cantora profissional, que em tão pouca idade já é considerada uma diva, com seu futuro promissor. As suas filhas sempre foram às meninas de seus olhos. O que me leva a relatar sobre essa pessoa que eu o considerava um amigo, daqueles que a gente se orgulha de ter, pela simplicidade na forma de tratar com respeito e carinho seus consortes, o que é raro hoje em dia. E o muito que aprendi nesse pouco tempo de convivência com esse ser humano, serviu-me de lição de saber o quanto é relevante valorizar os semelhantes. E tudo isso aconteceu como que por acaso através de uma ferramenta muito usada na atualidade: o computador e as redes sociais. E foi num dias desses qualquer do ano de 2013 que nos reencontramos num simples clique, lá estávamos trocando gentilezas e afetos amigáveis, querendo saber de nossas vidas, formação familiar, filhos e músicas. Sim nós tínhamos algo em comum à arte da musicalidade. Em um desses papos foi um passo para nos tornarmos parceiros musicais. Aquele Senhor Black, sensível, forte, decidido e calmo, não tinha pressa. Na aposentadoria fazia planos de expandir e ajudar jovens que estavam iniciando na vida musical. Eu lia o que ele me enviava pelo facebook e me sentia gratificada por ter de novo esse velho amigo, com muitos sonhos ainda para serem realizados, assim como os meus. E mesmo embora à distância nos sentíssemos perto um do outro, ainda confidenciávamos os nossos projetos de vida. Entretanto, algo me incomodava, não sei se era pura intuição, premonição, esses impulsos espirituais que às vezes temos e não sabemos o porquê daqueles pensamentos em que gostaria de lhe dizer: faça tudo o que queres fazer, mas faça rápido. À vezes eu insistia quando lhe mandava uma letra para fazermos uma música e lhe dizia, ainda não fez? E ele calma guria temos muito tempo pela frente, mas havia algo me dizendo que não. Fizemos uma música “Nova Era” uma mensagem que me pediu para se direcionado aos jovens. Um dia lá estava eu e meu marido em sua residência, convidados por ele para assinar os direitos autorais que me cabia daquela nossa nova canção. Passamos uma tarde inesquecível, tomamos café e conversamos assuntos pertinentes de nossa arte. Naquele mesmo dia escutei uma melodia que ele tinha feito e já estava com o titulo: “SAMBA NOS EUA”. Apaixonei-me pela levada da melodia e lhe pedi posso colocar uma letra? Ele disse sim. E deu-me as coordenadas da mensagem que gostaria de passar aos que moravam no exterior. Consegui enviar a mensagem que ele queria para aquela música. Mas não ouvi a canção toda, ele estava com outros projetos urgentes para fazer e me disse: amiga querida, assim que der tempo te envio a nossa música completa. Não deu tempo. Agora estou aqui com esse aperto no coração e as lembranças vivas no adeus de uma saudade do pouco que convivi com ele, mais virtualmente do que em presença e que agora irá permanecer até quando não sei, talvez infinitamente vá tomar conta de meus pensamentos. Ou até cada vez que eu ver alguém feito ele com aquele terno branco parecido com o seu e o inconfundível chapéu Panamá. Em minhas lembranças vai estar o Sr Black na nova versão do seu dia a dia, não mais sem o seu cabelo Black que representava tão bem uma época de nossa juventude, mas com o seu atual porte discreto e seus cabelos grisalhos lhe davam um novo ar bonito, tanto quanto dos tempos atrás. Sei agora que vai ser difícil de esquecer ao recordar-me do lamento de sua guitarra chorando às suas incrementadas sonoridades afros. A vida nos oferece oportunidades que nem sempre valorizamos a importância de certos instantes preciosos que nos é dado no acaso. E o mundo virtual torna-se vilão roubando as asas do tempo ali na nossa frente e é só clicar que pousamos em todos os lugares e do universo de nós mesmos. A presença física fica em segundo plano. Estamos padecendo e sobrevivendo do mal (ou o bem?) do mundo virtual. Hoje acordei precisando colocar as palavras doloridas que gritavam em minha alma por socorro e paz. Ao escrever no meu canto e revendo as rasteiras que levamos, pensei: tenho que orar e agradecer por ter dividido meu tempo de internetês com o dele e que não tem preço. E ao terminar de digitar lembrei-me de outra letra para uma canção que fiz em parceria com Claudio Costa, Curvas Urbanas ela diz: ...”Na corrida do tempo sou pé de vento e tropeço no jogo do esquecimento e esqueço de mim pra lembrar de você”....10/10/2015
Ao meu inesquecível e Brother Black
Beautiful Luiz Antonio dos Reis Vizeu, que foi planar feito anjo, com sua guitarra, nas asas do infinito em 07/10/15..
Ass.:Delma Gonçalves Mattos da Silva
Ass.:Delma Gonçalves Mattos da Silva
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